quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Sopro de Serenidade



Mais um momento que guardo comigo e que me traz um sopro de serenidade sempre que penso nele, um instante que me faz parar, respirar fundo, que ajuda a relativizar as coisas e a dar valor ao que realmente importa na vida. 
O principezinho nasceu. Ao fim de dois dias na maternidade, sentia que me começava a encaixar no papel de mãe. Tanta coisa que ainda tinha que descobrir, mas o facto de estar confiante  era já meio caminho andado. Já sabia pôr fraldas, fazer a sua higiene e dava os primeiros passos no processo de amamentação. Iniciavam-se assim novas rotinas na nossa vida. Ele nasceu numa quinta-feira e no sábado tive alta. Quando cheguei a casa um nervoso miudinho tomou conta de mim.
Agora, não era só o principezinho e as suas rotinas, como tinham sido aqueles dois dias na maternidade, agora era tudo em simultâneo: um mundo de coisas a acontecer a uma velocidade estonteante e um bebé que precisava de toda a atenção e mais alguma. O meu stress deve ter sido igual ao de muitas outras mães: "será que agora vou conseguir gerir bem o meu tempo, será que vou conseguir responder a este desafio?" Parecia uma barata tonta a tentar perceber se faltava alguma coisa, se o quarto estava bem preparado para o receber e por aí fora. No meio daquela azáfama, contava as horas a que tinha de dar de mamar, contava, voltava a contar, pensava no banho dele, enfim, trezentas mil coisas passavam pelo meu pensamento. Entro no meu quarto e estava lá a minha mãe com o cachopo ao colo. Em contra-luz, sentada na cama com o principezinho enrolado numa mantinha azul com bolinhas amarelas. De olhos fechadinhos respirava calmamente. A minha mãe olhava-o com todo o tempo do mundo e eu a contar pelos dedos a hora da próxima "mamada". Quando ali entrei e me deparei com aquele cenário de paz e sossego perguntei: "Está tudo bem? Ele está a respirar bem? Estão aqui os dois tão silenciosos..." A minha mãe, sem tirar os olhos do neto e com um sorriso saciado, disse-me: "Os bébés gostam de serenidade e calma, não vês que ele está tão bem." Naquele momento parei, nada era mais importante que a sua paz. As fraldas, o leite, o banho são sem dúvida essenciais, mas também era essencial saber parar e deliciar-me a olhar para o meu bebé, admirar as suas expressões quando está a dormir, ouvir a sua respiração, sorrir com a forma como agarra a minha mão, a maneira como se espreguiça. Era preciso saber suspender o tempo para viver aquela paz imperturbável. Ainda bem que isto aconteceu quando o cachopo tinha só três dias, pois permitiu-me que desde do início, sempre que começo a ter um ritmo acelarado aquela imagem chama-me à razão, ou melhor, ao coração, que se abre e deixa entrar um sopro de serenidade. 

2 comentários:

  1. Passados 27 anos eu continuo a tentar achar esta serenidade ;)
    Eva

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  2. :) É um mundo maravilhoso não é? E todos os dias uma nova descoberta... ;) felizmente e talvez por ser uma pessoa calma e prática por natureza consegui viver logo esse momento na primeira noite, recordo-me que ela estava no seu berço e a uma altura da noite, choramingou, agarrei nela e meti na minha cama e assim ficámos, eu a olhar para ela e a sentir "ligadas para sempre" e ela a dormir calmamente. (estava num quarto sozinha) Na manhã seguinte a enfermeira entra e ao vê-la na minha cama disse que a poderia ter chamado, para descansar um pouco, etc (tive uma cesariana) e eu a pensar "mas descansei tão bem, estive nas nuvens!" :)
    É aquela bola de sabão que nos acompanha a vida toda não é? ;) beijinhos!!:)

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