segunda-feira, 29 de abril de 2013

Detalhes



Às vezes, perdidos no meio do stress, dos problemas por resolver, das tarefas para fazer, damos por nós a dizer: a única coisa que me salvava agora eram umas férias no outro lado do mundo, precisava era de um SPA com todas as mordomias, precisava era de ir à lua, precisava disto e daquilo e mais não sei o quê e na maioria das vezes não são coisas simples. Implicam dinheiro, disponibilidade, possibilidade e todo um conjunto de factores que só de pensar fico cansada. Se calhar só precisamos tão somente de um espaço de tempo nosso com um detalhe que pode fazer toda a diferença na nossa rotina. Nos últimos tempos, tenho vindo a descobrir o conforto de um banho relaxante, a grandeza de um minuto de silêncio, a magia de um pôr-do-sol, a riqueza de uma troca de palavras comigo, a importância do candeeiro no sítio certo para um bom momento de leitura, a serenidade que um pauzinho de incenso pode trazer ao perfumar a minha casa, a cumplicidade com a minha cara-metade ao bebermos um chá à luz das velas, o aconchego de um bom abraço, a ternura do olhar do meu filho quando lhe faço bolas de sabão... Este espaço de tempo existe dentro de cada um de nós, precisamos apenas de estar disponíveis para que as coisas simples façam a diferença na nossa vida.

Hoje lanço-vos um desafio:

Partilhem aqui um detalhe que faça toda a diferença ao vosso dia. Se quiserem, participem com imagens inspiradoras.

Fico a aguardar!

Publiquem aqui ou enviem para o seguinte e-mail: mensagens.bolasdesabao@gmail.com

domingo, 28 de abril de 2013

sexta-feira, 19 de abril de 2013

O Tempo do Elefante



Estavamos a fazer um exercício. Pediram-me: " Diz um nome de um animal. Rápido, não penses muito."  Prontamente respondi: "Elefante". O seguimento do exercício, claro está, era perceber a minha escolha, qual a postura do animal escolhido. Na altura, estava grávida e a escolha do elefante não foi por ter uns quilinhos a mais. Isso estava bem resolvido.
Sempre associei o elefante a um animal impenetrável, nada o abala. Nunca o imagino a correr, penso sempre nele de forma relaxada,  com o seu ritmo imperturbável, é ele que decide o que fazer do seu tempo. 
"E se o descrevesses numa imagem?" Vejo-o de costas, a caminhar num passo lento, a apreciar o que está à sua volta. A cauda balança ao ritmo do  seu passo tranquilo. De repente, passa uma manada de zebras e nada muda a sua atitude. Escolhi o elefante, porque, por vezes, gostava de ter a sua atitude: impenetrável, imperturbável, inabalável, de o meu tempo ser, de facto, o meu tempo , de não sentir que estou a ser ultrapassada e  por isso tenho que "pôr prego a fundo" para acertar o passo. Estou aqui mas devia estar ali a fazer não sei o quê.  O meu pensamento não pode estar sempre em contra-relógio.  Uma hora para mim ou para o elefante são iguais, têm ambas 60 minutos, porém a postura de cada um é completamente diferente. Talvez, após ter  concretizado esta ideia, esteja num bom caminho para ser dona do meu tempo, (dentro do aceitável, claro!), tudo depende de mim, da minha atitude e da minha gestão.

www.fineartamerica.com

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Viagem até à Escolinha


Com o tempo a melhorar, comecei a ir levar o cachopo a pé até à escola. Quando saímos de casa, dá um bocado de luta, pois não quer dar a mão, tem vontade de correr até à escola a desbravar caminho. Depois de algumas negociações entre ir de carrinho ou ao colo, acaba por dizer: "A mão!" E pronto, lá seguimos viagem a pé e de mão dada. Cumprimenta as pessoas, conta os degraus que sobe e que desce, diz "olá" aos cães e aos "piu-pius" e pára para apreciar os aviões que passam. Fazemos os dois o caminho deliciados. Ele observa tudo com a frescura própria de uma criança e eu, inevitavelmente, mergulho no seu olhar. Quando me apercebo também eu me sinto uma criança com um olhar inocente sobre as coisas, ali estou de mão dada com o meu amigo mais novo. É uma sensação cheia de magia. Chegamos à escola. Ele toca a campainha e depois entramos os dois. Tiro-lhe o chapéu e visto-lhe a bata e a seguir ele vai para a sua sala, fazer actividades, ouvir a história do início do dia, fazer pinturas, jogos de encaixe, almoçar numa sala com mesas e cadeiras à sua medida.  E a mim, ninguém me veste um bata para eu também ir brincar? "Não, Sónia... tens que ir ganhar o pão." Quando ele não dá por isso, permaneço, por breves instantes, a apreciá-lo com uma vontade enorme de ficar ali a ouvir histórias de mão dada com meu amigo pequenino. 

terça-feira, 16 de abril de 2013

Mesa de Família




Na quarta-feira antes da Páscoa fui ao talho. Eu era a mais nova das clientes. As outras eram já senhoras avozinhas. Enquanto me estavam a atender deliciei-me a apreciar as simpáticas senhoras. Olhavam para a vitrine das carnes e esboçavam um tímido sorriso ao fazerem o seu pedido. Tentei ir mais longe, ao observar também os seus olhares. Nenhuma daquelas avozinhas estava verdadeiramente ali, todas elas, estavam já nas suas cozinhas a cozinhar o cabrito para o Domingo de Páscoa , todas elas estavam já à mesa a cortar as batatas quentinhas no prato dos netos, todas elas estavam já deliciadas à mesa a apreciar a família toda reunida. Foram breves momentos que viajei pelos rostos destas encantadoras senhoras, que tornaram uma simples ida ao talho numa viagem com um gostinho especial. Obrigada.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Laços



Quando eu era pequenita, a minha avó Nini ía buscar-me ao infantário, muitas vezes. "Vá, diz até amanhã aos teus amigos." , "Até amanhã!" dizia eu,  acenando com uma mão e dando a outra à minha avó. Já não a largava. E lá íamos as duas, por ali fora, de mão dada. Uma mão que ainda hoje  lhe consigo sentir o calor, o carinho e a segurança. Uma mão que me dava logo um puxão se fosse a cair, um mão que me fazia parar junto à passadeira para ver se vinha algum carro, uma mão que me ajudava a subir as escadas do prédio: "Upa Sónia, tu consegues!" Hoje, passados 30 anos, os papéis invertem-se: agora sou eu que a amparo quando vamos passear. "Dá cá a mão avó para não caíres." , "Cuidado, mesmo que o semáforo esteja verde, tens que olhar sempre, ouviste avó?" E lá seguimos as duas de mão dada como nos velhos tempos. A ligação que foi estabelecida entre nós na minha infância continua, o laço de ternura que nos une permanece igual e é ele que não deixa que nenhuma das duas caia.