quarta-feira, 31 de outubro de 2012

A Viagem de Férias



A bola de sabão de hoje traz uma memória da qual me recordo com muita saudade: a ida de férias para o Algarve com a família.
A noite da véspera da viagem era sempre uma excitação: preparar as mochilas com os jogos, brinquedos, cassetes, blocos, canetas, com este mundo e aquele e tudo o que lá coubesse. Eu e a mana fazíamos as mochilas em conjunto sempre a confirmar o que cada uma ía levar e se todos os items de brincadeiras estavam cobertos. Posto isto, vinha a minha mãe com as suas maravilhosas listas confirmar se as roupas, sapatos já estavam nas malas. O meu pai ficava responsável por preparar a câmara de video, a máquina fotográfica, os rolos, as cassetes e a banda sonora para a viagem, umas cassetes extraordinárias que havia na altura, do género jackpot 89. Dormir nessa noite era sempre complicado, mas tinhamos mais que  tempo para isso na viagem do dia seguinte. Levantavamo-nos cedo. A minha mãe ultimava o fecho das malas com as bolsas dos cosméticos e o meu pai tinha a missão de fazer o puzzle quando tentava arrumar a bagagem no jipe. Era sempre uma missão quase impossível, mas depois de algumas tentativas ficava perfeito. Eu e a mana comíamos uma bela taça de chocapics, super entusiasmadas, mas surgia sempre uma questão: "Pai, depois do que comemos, quando lá chegarmos podemos ir logo para a água?" "Sim." Dizia a rir-se. Estavamos prontos. Porta de casa fechada, momento de embarque. Levavamos sempre uns colchões desdobráveis castanhos com flores para mais uns primos que pudessem aparecer e como o espaço não era muito no jipe eu e a mana tinhamos que ir em cima dos colchões. Tudo o que fugisse à normalidade era espectacular! Ir em cima dos colchões era o máximo!... E depois seguia-se o momento que ainda hoje nos rimos. "Está tudo? podemos arrancar?" O meu pai ligava a ignição e lá iamos até ao fundo da rua... "Guardaste as bóias das miúdas?" perguntava a minha mãe. "Não..." respondia o meu pai... "Então é melhor voltarmos atrás..." Passado uns minutos, tudo a postos outra vez: "Está tudo? Podemos arrancar?" O meu pai ligava a ignição e lá iamos outra vez até ao fundo da rua... "Pai!!!! Esqueci-me da cassete da Tina Turner!! Ficou na aparelhagem...." "Oh Sónia, levas outras cassetes..." "Oh pai... duas semanas sem a cassete da Tina é muito..." E voltavamos atrás mais uma vez. Passado uns minutos: "É desta? Está tudo, podemos arrancar?" O meu pai voltava a ligar a ignição e mais uma vez não passavamos do fundo da rua. "Não me lembro se fechei a porta da garagem..." Dessa vez, ninguém disse mais nada. Demos meia volta e voltamos  a casa. Depois de termos regressado três vezes, e de já estarmos prontos para mais uma tentativa de iniciarmos a nossa viagem, a minha irmã sai-se com esta: "Pai, não queres fingir que arrancas, mas não arrancas para ver se nos lembramos de mais alguma coisa?" Rimo-nos da pequenita, mas na verdade era um bom plano e dessa vez é que conseguimos rumar ao Algarve. A viagem começava sempre com muitas gargalhadas, mas quando iamos nem a meio do caminho começava: "Oh mãe, olha a minha irmã... está na minha metade do colchão... lá por ser maior porque é que ela tem que dormir ao meu colo? Eu também tenho sono..." Enfim o costume. Passado mais um bocado paravamos para comer uns pêssegos que a minha mãe tinha preparado e para tirarmos a primeira fotografia das férias. Fotografia essa que só iamos ver passado umas três semanas porque tinham que ser reveladas... as fabulosas máquinas de rolo... mas a noite em que as viamos era sempre mágica... Reviviamos as férias outra vez. A fotografia que guardo mais especial dessas viagens, trago na minha memória, memórias deliciosas que me transportam até aquele preciso momento, que partilhei hoje aqui, numa bola de sabão... 

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Sempre e Nunca






SEMPRE E NUNCA... Duas palavras que transbordam inúmeras emoções, que carregam em si uma grande intensidade de sentimentos. Dizem-nos para não dizermos estas duas palavras porque são muito fortes: "SEMPRE  é tempo de mais e NUNCA, não se sabe se dessa água não beberemos." Mas porquê evitar dizê-las? Porque podemos ser incoerentes a dada altura da nossa vida com a postura que tomámos? Porque vamos ouvir: "eu avisei-te?" e então, qual é o problema de isso acontecer? O ser humano não é estanque, está em constante mutação, a equipar a sua mochila da vida permanentemente com as conversas que tem , com as vivências que vive, com as partilhas que acontecem com as pessoas com que se cruza, num mundo que muda a cada instante. Sou a primeira a defender as emoções que permitem que sejamos sinceros com a nossa pessoa, que estejamos bem connosco. NUNCA e SEMPRE são de facto duas palavras fortíssimas com uma grande carga emocional e que em determinados momentos da nossa vida temos tanta vontade de as dizer porque elas definem exactamente aquele instante, aquela emoção que estamos a viver. Ao evitar dizê-las, estamos a evitar uma emoção que está ali à flor da pele, a rebentar. Porque é que a vamos bloquear? Porque isso nos torna vulneráveis? Porque é uma fragilidade? O NUNCA e o SEMPRE podem ser um momento, mas são momentos verdadeiros, momentos genuínos e é desses momentos que quero ter memórias, de instantes vividos com intensidade, de momentos vividos verdadeiramente!...

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Louca mas Feliz


Quando ando a passear com o principezinho no seu carrinho sinto o retorno de olhares cumplíces das pessoas que se cruzam comigo, de mães, pais, avós que sorriem para nós, como que reconhecendo aquele momento tão único de andarmos a passear o nosso bébé com um sorriso na alma. Há dias, levei o cachopo à escola  e depois de lá o ter deixado voltei para casa com o carrinho vazio, tendo passado primeiro pelo café. De uma forma geral, as pessoas quando me vêem com o carrinho oferecem-se sempre para abrir a porta, para me ajudar a subir um degrau e naquele dia não foi excepção. A diferença era quando depois de me ajudarem olhavam para o carrinho para ver a criança, viam que estava vazio. Voltavam a olhar para mim, voltavam a olhar para o carrinho, chegando à conclusão que não era nenhuma alucianção. De facto não estava ali nenhum bébé, mas o meu rosto continuava a ter um sorriso estampado: "Bom dia!" disse eu. "Bom dia..." retribuiu a senhora que me abriu a porta do café. Senti no seu olhar que tinha algo para me dizer, do género: "Olhe, desculpe, eu não sou de intrigas, não a quero preocupar, mas a senhora não leva aí o seu bébé, caso não tenha reparado." Porém, conteve-se, achou melhor não perturbar o meu sorriso sereno. A caminho de casa a sensação foi a mesma: as pessoas sorriam, quando passavam perto do carrinho estranhavam, voltavam a olhar para mim e continham-se, mas acredito que pensavam: "Coitada, com tanta desgraça que anda por aí, deixa-a viver o seu momento de loucura." E lá ía eu, louca mas feliz!...

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O Funeral do Avô Zé



O funeral do avô Zé foi, provavelmente, o primeiro  a que fui de uma pessoa a quem estava tão emocionalmente ligada. Após o acidente viveu mais um ano entre nós, mas sem memória, eramos presenças para eles, figurantes da sua vida. Era ele que não se lembrava, mas eramos nós que sentiamos não existir. Havia uma esperança de ligação a qualquer momento, um retorno do olhar, mas eram apenas instantes sem profundidade, era um tic-tac, umas vezes está, outras vezes não, e nesse  seu último ano de vida era esse o nosso compasso: tic-tac, tic-tac... Quando estava com ele pedia-lhe muitas vezes um abraço, mas eram abraços desprovidos de emoções, eram encontros terríveis. No dia em que morreu, senti que o voltei a encontrar para lhe dar aquele abraço sincero cheio de emoções, cheio de boas recordações, de idas ao parque, de viagens de comboio. Nesse dia, senti que ele se lembrou de tudo e que estava presente de uma outra forma. Lembro-me de no velório estar sentada a ver amigos, familiares chegarem. Algumas pessoas não conhecia, mas todas elas traziam um bocadinho do meu avô no seu olhar com lágrimas, todas traziam uma peça do puzzle. A memória do meu avô continuava ali, afinal não se tinha perdido. Ele adorava ter pessoas em casa, convívios, almoçaradas e no dia da sua morte conseguiu uma proeza: morreu dia 23 de Dezembro e o funeral foi dia 24, véspera de Natal. Nesse dia, ele conseguiu ter a família toda reunida. Naquele Natal não houve desculpas de vivermos perto ou longe para estarmos juntos, estavamos todos ali, nada era mais importante que aquele abraço. Foi um Natal de emoções fortes.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Fontes de Energia




Energias...
Energias da terra, da natureza, do mundo
Energias dos amigos, da família, do amor e do amado...

Acredito que quando falamos de energias para a alma não estamos a falar de um assunto esotérico, oculto, enigmático e impenetrável. Para mim, trata-se de algo real e concreto mais do que possamos imaginar. Quando alguém nos sorri e nós sorrimos de volta e isso nos faz sentir bem, foi uma energia que passou para nós, uma boa energia. Podemos chamar-lhes emoções, que não são mais do que energias que nos fazem rir, chorar, que nos arrepiam, que nos entusiasmam, que nos irritam e sentimos isso fisicamente. São estados de espírito que conseguimos identificar nas pessoas à nossa volta, portanto, são visíveis, são reais. Essas energias, em forma de sorrisos, abraços, sol, chuva, conversas, encontros, partilhas, lágrimas, alimentam-nos a alma e são fundamentais para o nosso equílibrio interior. Seja a energia do sol, seja a energia do nosso companheiro, pai ou mãe todas elas são essenciais e é errado pensar que podemos ser alimentados apenas por uma. Pois inconscientemente, vamo-nos tornar possessivos em nos saciar somente com essa energia. Se por um momento, essa pessoa não nos alimentar, porque ela própria está ligada numa rede de emoções, num fluxo de dar e receber, vamo-nos sentir fracos, vulneráveis, porque naquele instante não fomos alimentados. Há uma energia da qual nunca, em momento algum, nos podemos desligar: é a energia da terra, é a capacidade que temos em nos deslumbrar com o mundo à nossa volta, com o sol, com a chuva, com o vento, de ter um olhar perspicaz, sempre atento e disponível em encontrar novas fontes de energia. Está em nós descobrir essa magia das coisas!... 

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Metáforas, o Meu Tapete Voador!




Adoro metáforas... Adoro viajar entre as palavras, entrelaçar-me nelas e explorar os seus significados.
A metáfora permite-nos um transporte para outra realidade. Partimos de algo que conhecemos, que nos leva com segurança para essa nova realidade, que antes de a conhecer ficamos com a sensação de a ter já experienciado, pois estamos a definir esse novo mundo através de algo que faz parte da nossa realidade. A metáfora sugere que haja uma descodificação por parte da pessoa que nos ouve, trata-se de uma comparação subentendida e ao decifrar a nossa metáfora viaja connosco no nosso tapete voador. A metáfora para mim é um meio de transporte, na verdade, dos melhores para viajar e explorar as potencialidades da imaginação.




quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Nada do que é Importante se Perde Verdadeiramente





No meu imaginário, as pessoas que morrem, não morreram na verdade. Vivem simplesmente num sítio distante e estão incomunicáveis. Continuam por cá, num mundo paralelo. Não nos cruzámos hoje na rua, apenas porque hoje fui trabalhar mais cedo. Não atende o telemóvel porque precisava de descansar e desligou-o. Este ano não passou o Natal connosco porque já tinha combinado com outros familiares passar com eles que vivem longe. Continuo a ter conversas imaginárias com estas pessoas. Sonho com elas, sinto a sua presença. Concordo plenamente com uma frase de Miguel Sousa Tavares, a propósito da morte da sua mãe: "... E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre." As memórias permanecem e através delas, aqueles que partiram, continuam por aqui.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

"Tá aqui a Mãe!..."


Naquele dia tive um reconhecimento muito especial: o olhar risonho do meu principezinho. Fui buscá-lo à escola. Quando cheguei e o nosso olhar se encontrou houve uma suspensão do tempo, tudo parou, na verdade, o tempo só se suspendeu para mim e para ele, mas isso agora não interessa nada, o importante era o nosso momento e a ligação do nosso olhar. Senti que nos primeiros dias que o ía deixar à escola, o olhar dele ficava triste, como se traísse a sua confiança: "vais-te embora e deixas-me aqui...", e quando o ía buscar, embora quisesse vir comigo não se ria para mim, vinha amuado, sentia-se traído. Mas naquele dia foi diferente, peguei-o ao colo e o nosso sorriso era a continuação um do outro, eram um só sorriso, um sorriso de reconhecimento. O seu olhar dizia-me: "tu vens-me aqui pôr, mas cumpres sempre a promessa de me vires buscar." Regressamos a casa. Ele sempre ao meu colo com a mãozinha no meu peito. Tinha um sorriso sereno e durante o caminho repetia, olhando para mim: "tá aqui a mãe..., tá aqui a mãe..., tá aqui a mãe..." O brilhozinho nos meus olhos foi inevitável.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Avó Laurinda






A minha avó Laurinda tem uma particularidade que a torna genuína. Quando comenta o sabor de algo que come, fá-lo desta maneira genial: "Comemos uns bifes tão bons, tão bons, tão bons, que até parecia marisco!" "E aquele peixe? Era tão  macio, tão macio, que até parecia puré a desfazer-se na boca!" "As maçãs era tão doces que até pareciam pêssegos!" "E o leite creme? Era tão saboroso que até parecia arroz doce!..." Rimo-nos, mas a forma como ela nos transporta para um paladar para conseguirmos reconhecer a qualidade da comida fá-lo de uma forma única. A verdade é que, sem querer, com as suas viagens pelo mundo dos sabores passamos uma refeição em trânsito, chegando ao fim com a sensação que nos deliciámos num autêntico banquete!...

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Abraçar Reencontros


Adoro o momento da chegada. Desde criança que gosto do momento de reencontrar alguém. Lembro-me em pequena de ficar contente quando chegavamos a casa de amigos dos meus pais ou amigos deles que iam lá a casa. Eu até podia não os conhecer, até podiam não ter filhos para eu brincar, mas aquele instante de bater ou abrir a porta, era qualquer coisa de fabuloso. Ficava excitadíssima! As palavras que se trocavam naquele momento, os sorrisos nervosos, os abraços genuínos eram qualquer coisa de delicioso que eu observava risonha. A conversa de adultos que se seguia na sala até podia ser enfadonha para uma criança, mas já tinha valido a pena ter presenciado emoções à flor da pele , gargalhadas sinceras e troca de olhares com brilho. Ainda hoje esses instantes continuam a provocar em mim uma sensação revitalizadora. É um momento em que sinto uma renovação de energias, energias que chegam de um tempo passado que desejo reencontrar.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Aqueles Olhinhos Absorviam Tudo



"Trum, trum, trum, tum, tum, trum, trum, trum, tum, tum...", "Hoje não há nada nem a 15 nem a 10, é tudo a 5 euros!", "patrão, tem que analisar a qualidade da camisa." Aqueles olhinhos absorviam tudo. Cada gesto, cada expressão... "Olha a sandes de coirato!" e uma nuvem de fumo com um cheiro muito próprio passa-lhe à frente do rosto. Logo a seguir, no meio do nada, surgem bolas de sabão gigantes,  o mickey e o noddy a esvoaçarem e meninos a comerem nuvens cor-de-rosa.... "Ahhhh...", um sorriso maravilhado com toda aquela história de fantasia que estava a ser contada diante dos seus pequenos olhinhos. Foi assim a primeira ida à feira com o principezinho.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Poção Mágica




Na minha infância, embora nunca confrontada directamente com a morte, pensava muitas vezes nisso, o que seria morrer, o que seria acabar. Às vezes, tinha medo de adormecer e não acordar de manhã, de me apagar... tinha medo, um medo irracional próprio de uma criança. Lembro-me de estar um dia a brincar no meu bairro e não sei a que propósito comecei a falar disso com um vizinho pouco mais novo do que eu. Eu tinha sete anos e ele talvez cinco. E, às páginas tantas, ele disse-me: "uma pessoa quando morre é porque o coração parou, por isso, quando estiver a morrer começo a correr, a correr o mais que conseguir e o coração vai começar a bater muito e eu já não morro." E continuou a brincar. Fiquei a pensar naquilo com um olhar risonho, tudo aquilo fazia sentido para mim, estava mais tranquila. Tinha descoberto a poção mágica da vida!...