segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Retornar a Casa





Embora me adapte muito rapidamente a novas situações e me reorganize rapidamente em diferentes espaços, preciso muito do meu cantinho, do meu porto de abrigo. Lembro-me que quando comecei a viver em Lisboa e ao fim-de-semana ía para a casa dos meus pais no Alentejo, a minha mala era absolutamente gigantesca. Era eu que a carregava por isso, os meus pais não se atreviam a fazer nenhum reparo, ainda que nos seus rostos conseguisse ler: "Por dois dias trouxeste isso tudo?..." Levava no mínimo 10 caixas de cds, 4 ou 5 livros, os meus bloquinhos, 1 ou 2 dicionários, mais 2 ou 3 cassetes vhs e assim no geral penso que era tudo, fora roupa, sapatos, etc. Na maioria das vezes, nem sequer "brincava" com 1/3 daquilo que levava, mas era uma necessidade. Precisava daqueles cds, nas prateleiras, os livros nas estantes, os bloquinhos nas gavetas. O meu ângulo de visão quando chegava ao meu quarto no Alentejo tinha que estar protegido pelas energias que ía buscar a cada uma dessas coisas. Também me lembro de uma situação semelhante,  numa altura que estava em mudanças e fiquei umas semanas em casa da minha avó. O ambiente era acolhedor, tinha o sorriso da minha avó, as suas iguarias culinárias, mas havia momentos que me sentia angustiada, porque me sentia enfiada numa caixa, onde estavam as minhas cartas, os meus cds. Recordo que numa tarde as tirei de baixo da cama e comecei a abri-las. Em cada uma delas estava um bocadinho de mim. Momentos antes sentia-me desintegrada da minha pessoa e à medida que mexia e remexia na minha papelada, fotografias, cassetes, o "puzzle Sónia" ganhava forma. Por vezes, até a minha irmã gozava comigo. "ihhhh Sónia, o que é que levas na mala? Quantos dicionários são? Só vamos jantar fora com os pais, vimos dormir a casa..." Riamo-nos as duas. Era mais forte do que eu, na verdade, eu não podia ir jantar fora simplesmente com uma mala com os documentos, isso era de todo impossível! Esteja onde estiver preciso sempre do caminho para o lar doce lar, algo que me leve até lá, preciso sentir que a qualquer momento posso retornar a casa.

3 comentários:

  1. Percebo-te bem, também estou "imigrada" em Lisboa e no início as minhas malas eram assim!

    gosto do blogue, parabéns :)
    até breve,

    http://saladosilenciocorderosa.blogspot.pt/

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  2. Olá!... Obrigada pelo teu comentário :) dei uma espreitadela ao teu blog e também gostei!... Achei piada, o facto de termos inaugurado os blogs praticamente no mesmo dia!... Vou tornar-me tua seguidora :)

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  3. Vinha escrever um comentário e não pude deixar de ver esta coincidência... Vânia e Sónia a falarem? :) Duas pessoas que apenas conheço virtualmente e por quem já tenho um carinho especial!:) Se bem que, Sónia, até nos devemos ter cruzado no casamento da tua prima... :P Ah!! Vida virtual maravilhosa!!:)
    Mas ia eu dizer... gostei particularmente de ler este post... motivos obvios!;) Desta segunda vez, trouxe coisas nossas de Portugal, que na verdade "não precisamos cá", mas que precisamos de ter perto... para lá está, nunca nos esquecermos do caminho para casa!!;) Beijinhos!:)

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