terça-feira, 3 de março de 2015

CHEGA DE DIETAS!

Chega de dietas, proibições, penalizações e sentimentos de culpa!

Fazer dieta é para mim sinónimo de: "não posso comer isto", "não devia comer aquele bolo, mas agora já está", "Aiiii! E agora? Assim nunca mais emagreço!", "olha, começo a dieta amanhã."

Resultado: ando o ano todo sufocada com a ideia da dieta, acabo por comer coisas que não me convém, o sentimento de culpa assume de tal maneira um poder em mim que acabo por não saborear aquilo que decidi comer. Gasto o dobro ou triplo da energia ao tentar ignorar o bolo proibido , que no fim acaba por ser devorado. Mas como já gastei muita energia a resistir-lhe continuo sem estar saciada e persisto em fazer asneiras. Torna-se num ciclo vicioso. Se olhar para trás, passei o ano todo com o "peso" da dieta no meu pensamento e não emagreci um grama. A acrescentar, está uma enorme frustação. Já para não falar na roupa, que se torna sempre num dilema. Dou por mim a vestir o que for mais neutro. Eu que gosto tanto de peças coloridas, divertidas, com detalhes, olho para o meu guarda-fatos e só vejo calças e blusas escuras que não deixam evidenciar as formas do meu corpo, roupa larga para eu própria me tentar esquecer da barriguinha que tende em ganhar destaque. Os pensamentos tornam-se aniquiladores, mergulho num pântano, o desconforto toma conta de mim, o corpo parece aumentar de peso de forma autónoma e o espelho torna-se no meu maior inimigo. Foram estas emoções que se começaram a traduzir em revolta cá dentro, que me fizeram querer mudar, precisava de uma nova atitude. Acredito que tudo começa na nossa cabeça e "ela" queria esta mudança.

Parti da seguinte premissa: fazer dieta estava fora de questão. Só a palavra me asfixia, porque a associo a um período estipulado com um regime rígido de proibições e sacrifícios, em que passo o dia esfomeada a comer alface, sopas sem batata e a cobiçar o almoço alheio. Tantas vezes, que me deitei mais cedo com medo que a fome aparecesse. E depois quando acaba a dieta, come-se o que se quiser para uns meses mais tarde voltar ao ponto de partida? Não me parece. Desta vez, queria avançar e conhecer outros caminhos, estava farta de fazer sempre o mesmo percurso, sempre a voltar para trás, já o sabia de cor. Queria uma nova viagem para mim, estimulante cheia de coisas boas, uma viagem feita à minha medida, ou porque não dizer à minha nova medida!...

Comecei por ver o significado da palavra dieta: o conceito vem do grego "díaita" que significa "modo de vida". A dieta é portanto um hábito e representa uma forma de viver. Este conceito fez mais sentido para mim e resolvi trocar dieta por estilo de vida,  toda uma coerência que queria encontrar na minha forma de estar. Ao interiorizar estas máximas, comecei a conseguir libertar-me de algumas amarras. Percebi que poderia ter acesso a tudo, mas que nem tudo me convinha. E aqui começa a segunda parte do processo de mentalização. Ao dizer, que nem tudo me convém, não me estou a proibir de nada, simplesmente estou a começar a ser minha amiga, coisa que tinha andado a negligenciar. Estava a dar imenso trabalho ao meu organismo com as opções alimentares que tinha: ingerir muitas gorduras, hidratos de carbono, açúcares processados, comer muito rápido, iniciar dietas de dois em dois dias, que evidentemente não sortiam efeito, ver constantemente nos doces uma recompensa merecida por um stress que tinha tido, enfim, era esta a minha relação com a comida. Estava mais que na hora da mudança.

Imaginem o corpo como uma fábrica. Já viram a tremenda confusão e desalinho em que se encontrava o meu? Os "operários" andavam com excesso de trabalho, mas sobretudo desorientados e sem confiança na "patroa", ou seja, em mim. Ao consumir muitos hidratos de carbono e gorduras sem dar hipótese ao corpo de gastar essa energia, levava a que os "operários" tivessem que "fazer horas extraordinárias"para conseguirem digerir tudo o que tinha sido comido, ou seja, para terem alguma capacidade de resposta acabavam por ir buscar sangue ao cérebro provocando-me sono, muito sono. O que comia, como era em demasia acabava por ser guardado nos "armazéns" de gordura já sobrelotado. Os açúcares processados que nem dão opção de escolha ao organismo para os trabalhar, davam entrada directa para o sangue, comer depressa também não os ajudava, pois não tinham tempo de produzir os "fermentos" correctos para permitir uma boa digestão, a comida chegava ao estômago sem aviso de recepção. E as dietas que começava, acabavam em 48 horas. Basicamente, a minha "fábrica" tinha entrado em auto-gestão, os "trabalhadores" estavam completamente às aranhas, tinham perdido o controlo do seu trabalho. Deixaram de acreditar em mim, porque se lembravam que passados dois ou três dias voltaria a comer doces e a ingerir comida menos boa para o organismo. Não era uma pessoa de confiança para o meu próprio corpo. Esta tomada de consciência foi a que mais ressonância fez dentro de mim. Eu que prezo tanto valores como a confiança, a honestidade, a palavra de alguém, não estava a honrar esses valores comigo. Isso deixou-me triste, mexeu comigo. Era uma traidora. Precisava reconquistar-me e fazer valer que honro a minha palavra, que sou de confiança, que sou uma pessoa justa. Senti muita urgência neste processo, que foi um pouco o motor da mudança.

Neste percurso aprendi outro conceito que também tem feito a diferença na minha viagem: o nosso organismo tem aquilo a que se chama "memória metabólica". Reconhece os nossos hábitos alimentares e assume um padrão que irá definir as linhas orientadoras do seu trabalho. Portanto ao fazermos uma mudança na nossa alimentação deverá ser feita por um período prolongado, para que o organismo reconheça esse modelo e oriente a digestão e a absorção dos alimentos de acordo com esse padrão. Por isso, é que dietas rápidas e drásticas não nos levam a lado nenhum, simplesmente baralham os nossos "operários" que entendem essas maluqueiras como agressões, truques de baixo nível que nos continuam a enganar e a trair. A defesa do organismo será continuar a armazenar gordura. Na criação de uma nova memória metabólica, o propósito será encontrar um equilíbrio entre o que consumimos e o que gastamos. Pois, se estiver em excesso o organismo começa por tentar queimar primeiro aquilo que acabamos de ingerir e o objectivo é que se começem a queimar o que está em "stock no armazém". Escolher alimentos naturais e pouco processados permitem aos "operários" fazerem o seu trabalho e se a isso juntarmos algum exercício físico a digestão torna-se ainda mais eficiente.

Ok, e os trezentos mil bolos de chocolate, absolutamente fantásticos que aparecem que nem cogumelos naquele momento que nos sentimos mais frágeis... O que fazer? Após o período de mentalização, a fase mais complicada, em que se gerem todas essas solicitações, percebi a grande diferença entre o fruto proibido, o mais apetecido e o bolo de chocolate que não como por minha opção. O peso destas duas decisões é completamente diferente e revelou-se no meu íntimo também de forma distinta: a proibição traz-me resistência, frustração; a opção de não comer determinda coisa porque não quero, traz-me liberdade e isso garanto que é uma óptima sensação, a de não ser escrava, nem prisioneira da comida!

Ao optar por um novo estilo de vida, estou a assumir um compromisso comigo que desejo que se reflicta num bem-estar físico, intelectual e espiritual, e esse bem-estar eu quero para o resto da minha vida. Com esta máxima  acabei de me libertar de todas as amarras sufocantes e pantanosas que a dieta me impunha, de repente sou livre e mais leve! As portas fechadas deram lugar a janelas abertas, um mundo de possilidades nasce diante de mim.

Se estou a assumir esta nova atitude para o resto da minha vida é bom que seja espectacular, pois comer alface ao almoço e ao jantar não está no meu menu, é demasiado monótono e limitativo. Desta necessidade brota uma vontade enorme de ir à descoberta de novos alimentos e de redescobrir outros que me tinham passado despercebido. De facto havia um mundo à minha espera de coisas fantásticas para saborear, paladares intensos e suaves que me segredam novos sabores e texturas. As roupas vão ganhando cores e formas e o espelho torna-se no fiel amigo da minha mudança.

Sei que algumas pessoas se vão reconhecer aqui. Acreditem que a parte mais difícil é sem dúvida a mentalização, tomar consciência da necessidade de mudança, porque uma vez interiorizada a atitude que queremos ter perante a nossa vida, a mente e o corpo ficam em sintonia. Deixaremos de ter duas forças dentro de nós, cada uma a lutar para seu lado, e que tanto nos desgasta. Teremos sim, uma equipa a trabalhar para o mesmo, para o nosso bem estar.

Vou fazendo as minhas conquistas diárias e respeitando o meu ritmo. Se tiver sempre presente a premissa que escolhi "eu quero ser minha amiga", mesmo com algumas recaídas vou conseguir sempre encontrar o norte da minha viagem.

Entendam o texto de hoje como uma sincera partilha da mudança que assumi fazer e obrigada pai pela metáfora da fábrica que tanto me tem ajudado neste processo.



6 comentários:

  1. É por isso que mesmo sendo nutricionista (como sabes), nunca uso a palavra "dieta", pois a sociedade usa-a de forma errada... Uso sim "plano alimentar", pois é isso mesmo, como disseste em texto longo, aprender e incorporar um plano como o nosso estilo de vida.. nosso... para vivermos de forma saudável. E como tu tb disseste por outras palavras que costumo usar "o nosso corpo é uma máquina de hábitos...para o bem e para o mal!" ;) E não existem alimentos proibidos, existem sim alimentos menos saudáveis! ;)
    Gostei de te ler, e focaste bem a questão da ligação "psicologia e nutrição", uma amizade de anos e eterna! ;) uma não pode dominar a outra, mas sim caminharem juntas na mesma direcção! ;) E no meu projecto de consulta online, tenho confirmado muito isso, que muitas das vezes à verdadeira questão está precisamente aí nesse ponto! ;)
    Um beijnho e boas leituras! ;)

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    1. Obrigada pelo teu comentário!... Sem dúvida, psicologia e nutrição de mão dada :)

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  2. Nem mais! Gosto desse espírito e da postura perante a alimentação! Agora é manter! Bjoooooo

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  3. FANTÁSTICO!
    Já perdi 50 quilos sem bem do que falas e a razão que tens:)
    beijinho grand e parabéns o texto está muito bom.

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    1. Obrigada Vanessa pelo teu comentário!... Dei uma espreitadela no teu blog e também fiquei inspirada com a tua força de vontade. Parabéns!

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