Os fins-de-semana em que os avós nos iam visitar ao Alentejo eram sempre espectaculares. Basicamente eram mais duas pessoas que chegavam para brincar comigo e com a mana. Às dez horas da manhã de sábado, já andávamos excitadíssimas a correr de janela em janela sempre que um carro se aproximava. " Inês, é agora, despacha-te! Eles já chegaram!" Corríamos para o carro para dar muitos beijos e abraços. Traziam-nos sempre uns minúsculos ratinhos de chocolate que tinham um sabor especial. Era um fim-de-semana em cheio: os avós estavam ali para ver os nossos espectáculos de variedades super completos. Cantorias, adivinhas, truques de magia, uma ou outra actuação da Tina Turner, e por aí fora. Um espectáculo que tinha tido público durante a semana, os nossos pais, mas que ao fim-de-semana com os avós era casa cheia, lotação esgotada!
Porém, quando chegávamos a domingo de manhã, depois de ajudarmos o avô a lavar o carro com a mangueira do jardim, eu e a mana entrávamos em stress: era o dia dos avós se irem embora e as despedidas tinham sempre muitas lágrimas, mesmo que no fim-de-semana seguinte voltássemos a estar juntos.
Houve uma vez que, assim de repente, eu e a mana tivemos uma ideia mirabolante para boicotar a partida dos avós. Como raptar a avó Nini era capaz de dar um bocado nas vistas, fomos à mala dela e tirámos-lhe o lenço das ranhetas. Com um sorriso nervoso, fomos escondê-lo no nosso quarto atrás de um boneco que estava na escrivaninha. Chegara a hora da despedida. Com lágrimas nos olhos, demos um abraço e um beijo, mas havia uma esperança que eles voltassem atrás quando dessem pela falta do lenço. Fomos andar de bicicleta. Passados dez minutos, vimos ao fundo da rua o carro dos avós: "Viva!" O plano tinha dado certo. Agora era só dizer: "Em troca da avó devolvemos o lenço das ranhetas." Estacionaram. Corremos para eles com mais abraços, beijos e gargalhadas. Tínhamos conseguido. "Então, o que vos aconteceu? Porque voltaram?" Perguntámos e rimos disfarçadamente uma para a outra. "A vossa avó esqueceu-se dos comprimidos e tivemos que os vir buscar." disse o avô Zé. "Ahhhhh... tá bem!..." dissemos nós. Passados cinco minutos arrancaram novamente. Desta vez, não ficámos muito tristes, afinal ainda tínhamos um trunfo: o lenço das ranhetas continuava sequestrado, eles ainda podiam voltar, ainda havia esperança!...
Que saudades desta deliciosa ingenuidade...
Sónia, também gostei muito do teu espaço, cheio de estórias deliciosas sobre amor, família, cumplicidade e o que nos une às "nossas" pessoas, aquelas mesmo especiais...
ResponderEliminarobrigada por partilhares!
um beijinho